Valoriza-se
hoje a ideia de que o processo de crescimento da pessoa no que se refere à
aquisição dos saberes e conhecimentos necessários a viver num mundo complexo,
já não tem lugar num único tempo e num único espaço, como se aceitava no
passado.
O grande
desafio que se coloca às nossas sociedades, aos sistemas formais de educação e
formação e a cada um de nós, é a aceitação de que a aprendizagem tem lugar
permanentemente, ao longo de toda a vida, em múltiplos tempos e nos mais
diversos locais. Assim, o repto que se coloca de há uns anos a esta parte, e
cada vez mais se colocará no futuro aos sistemas de EFA, é o de responder
simultaneamente a cada uma das pessoas e a uma economia cada vez mais
globalizada e marcada por um grau muito elevado de imprevisibilidade.
Nesta
economia o desemprego assumiu e continua a assumir proporções verdadeiramente
terríveis, sobretudo para aqueles que detêm menores níveis de qualificação e de
capacidade de adaptação a situações novas.
Todo o
processo de educação e formação – diz-se, sobretudo quando se trata de adultos
- deve estar centrado no sujeito, que deve apropriar-se do seu itinerário
formativo, refletindo sobre as suas práticas mas tendo, também, em consideração
as relações que estabelece com os outros e com o contexto em que se insere.
Quer isto dizer que a formação deve, para além da informação, investir
fortemente no “aprender a aprender” preparando o sujeito para intervir em todas
as dimensões da vida em sociedade: a família, o trabalho, a comunidade, o
lazer. As empresas mais competitivas é isto que fazem.
A tarefa dos
processos formativos não se pode limitar, portanto, a fornecer informação, mas
deve procurar dar às pessoas os instrumentos para melhor selecionarem e
tratarem essa informação de forma crítica, de modo a transformá-la em
conhecimento, facilmente mobilizável.
Não se trata,
portanto, de providenciar aos adultos os mesmos conteúdos, com a mesma
organização curricular que muitos já experimentaram na escola e rejeitaram, por
razões diversas.
A educação e
a formação têm de ser mais flexíveis, isto é, adequadas aos grupos, às suas
necessidades e expectativas, o que implica fazerem apelo à participação activa
de cada um. A flexibilidade aumenta a produtividade dos processos formativos,
reduz os custos e faz progredir a eficiência interna e externa dos sistemas de
educação e formação.
A questão
central que se colocou com a criação da ANEFA, foi precisamente a de como
conceber e organizar sistemas de educação e formação que permitissem a construção
de múltiplos itinerários que respondessem, simultaneamente, à necessidade de
reconhecer e validar as aprendizagens adquiridas em contextos não formais e
informais, à necessidade de preparar para o exercício de uma cidadania ativa e
para os novos perfis profissionais exigidos por uma economia cada vez mais
competitiva, por mudanças tecnológicas cada vez mais rápidas.
Foram aqueles
os pressupostos em que assentou a conceção e operacionalização das diversas
ofertas educativas e formativas então postas em prática: os Cursos EFA; as
Ações Saber +; os Clubes Saber +; os Concursos Anuais de Boas Práticas de EFA;
mas, sobretudo, os processos de reconhecimento, validação e certificação de
competências.
Aliás, no
centro desta mudança esteve precisamente a conceção e adoção dos Referenciais
de Competências-Chave (então o do nível básico) que fez descolar a educação e
formação de adultos do modelo escolar, para um modelo centrado em competências
a adquirir ou reforçar, de acordo com temas de vida significativos para cada
grupo e em função dos desempenhos exigidos a cada adulto no seu quotidiano.
António
Firmino da Costa (1) afirmava, em
2002, que “contra o que têm sido os preconceitos e as inércias habituais,
apostou (se) na estratégia, hoje em dia decisiva, de interligar competências
formalizadas e competências informais, complementando-as reciprocamente, para
que as primeiras não se esgotem em aprendizagens escolares ritualizadas e
descontextualizadas, por um lado, e as segundas não permaneçam apenas enquanto
rotinas profissionais fixas e circunscritas, não transponíveis, não
generalizáveis e não atualizáveis, por outro.”
Este modelo,
hoje muito questionado internamente, mantém, do meu ponto de vista, toda a
relevância e oportunidade, tendo sido objeto de avaliações extremamente
positivas como um modelo inovador, quer ao nível nacional, quer mesmo ao nível
das instâncias internacionais que realizaram estudos e exames temáticos sobre
Portugal, como a OCDE.
Ora, apesar
do debate que atualmente se trava sobre a relevância de uma aprendizagem por
competências, aquela afirmação mantém, creio, toda a pertinência, pois a
circulação alargada de pessoas exige certificações transportáveis, rapidamente
identificáveis e reconhecíveis socialmente.
Não é por
acaso que, em 2012, a OCDE afirma “Em resumo, as competências transformaram-se
na moeda de troca global das economias do século vinte e um (2).
A estratégia
iniciada em 1998 teve, até agora um percurso bastante atribulado, mas continua
a ser imprescindível dar prioridade à qualificação de toda a sociedade, sem
exclusões, continua a ser condição de garantia de um tecido produtivo
sustentado, pois a competitividade situa-se hoje na confluência de dois
sistemas: o da produção e o da formação das pessoas.
Será um
retrocesso enorme se, por falta de investimento em processos sérios de
monitorização da qualidade e de mecanismos de apoio à operacionalização de
estratégias formativas inovadoras, se desvirtuar, escolarizando, estas
oportunidades de aprendizagem.
Os adultos
portugueses precisam e querem mais competências e mais certificação das
competências que possuem.
Ana Maria
Canelas - Associação O Direito de Aprender
(1) Educação e
Formação de Adultos: Fator de Desenvolvimento, Inovação e Competitividade. ANEFA, Dezembro 2002.
(2) In: Better skills. Better jobs. Better lives.
The OECD skills strategy. 2012. p. 3
População (%)
que atingiu pelo menos o nível secundário de educação (12º ano), no grupo de
idade 25-64 anos, na UE27 e Portugal
Ano
|
União Europeia
(27 países)
|
Portugal
|
2000
|
64,4%
|
19,4%
|
…
|
…
|
…
|
2005
|
69,4%
|
26,5%
|
2006
|
69,9%
|
27,6%
|
2007
|
70,7%
|
27,5%
|
2008
|
71,4%
|
28,2%
|
2009
|
72%
|
29,9%
|
2010
|
72,7%
|
31,9%
|
Fonte: Estado
da Educação 2011: A Qualificação dos Portugueses. CNE, Dez.2011
Consultado a 15.12.2014,
disponível em
http://www.direitodeaprender.com.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=708&Itemid=5
A educação, na sociedade atual, enfrenta aspetos que também eles são o retrato de uma evolução social.
Algumas tensões que a educação deve, pelo menos, tentar ultrapassar, são:
A educação, na sociedade atual, enfrenta aspetos que também eles são o retrato de uma evolução social.
Algumas tensões que a educação deve, pelo menos, tentar ultrapassar, são:
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