domingo, 11 de janeiro de 2015

Sumário

- Reflectir sobre o impacto da educação na vida do adulto;
- Reflectir sobre a necessidade de uma permanente atualização dos conhecimentos;
- Refletir sobre o papel das TIC na formação de adultos.


terça-feira, 6 de janeiro de 2015

O desenvolvimento do adulto: conceitos e perspetivas

O self assumido

De entre os modelos teóricos sobre o desenvolvimento do adulto mais frequentemente citados a propósito da educação e formação nesta etapa da vida, destacam-se os de Maslow (1970), Erikson (1972), Rogers (1974) e Loevinger (1966, citado em Ralha-Simões, 1991).

Embora desenvolvam diferentes orientações, porque partem de perspetivas também diferentes, todos eles apontam para a capacidade do sujeito adquirir, a partir de determinada fase da sua vida, competências de autonomia, capacidade para se libertar das influências sociais que contribuíram para a formação da sua identidade, logo para se transcender, se superar, apoiado nesse self entretanto formado. Este conjunto de pressupostos é claro no constructo de auto-actualização de Maslow, que se refere à capacidade que o sujeito possui para, com base naquilo que é, rever as dimensões e os aspetos que configuram o seu self. A tarefa do formador é a de ajudar as pessoas a desenvolver mais integralmente o que são, a realizarem e a atualizarem mais plenamente as suas potencialidades.

No caso de Erikson, o autor defende o conceito de integridade, que se traduz na capacidade do indivíduo se ajustar aos desafios da sociedade. Neste sentido, embora considere a vida pessoal como integrada num contexto histórico e cultural alargado, Erikson concebe a existência, no indivíduo, de um núcleo de partida que tem de se apropriar e adaptar às variáveis socioculturais do mundo em que vive. considera que o adulto está permanentemente envolvido num processo de crescimento psicológico, através do qual constrói o seu projeto de vida, se auto-realiza e auto-determina na procura de um sentido para a sua existência. O fator que o sujeito manipula em função dessa intencionalidade é o seu self.

Com este objetivo, Rogers defende o profundo conhecimento pessoal como a estratégia para que se persigam os objetivos de desenvolvimento pretendidos. Aponta, como função primordial do formador, o desempenho de um papel semelhante ao de um terapeuta que auxilia o formando a aprofundar esse conhecimento de si próprio, com o objetivo de identificar os aspetos em que julga poder mudar, para que se realize mais plenamente como pessoa.

Finalmente, Loevinger define fases que conduzem uma trajetória em direção à autonomia, mapeando o curso de vida com momentos que encerram indicadores de desempenho que gradualmente possibilitam ao sujeito gerir de forma mais autónoma as suas posições e decisões.

Esta conceção de “self assumido”, descrita nos exemplos dados mas que subsiste noutras conceptualizações do desenvolvimento do indivíduo na vida adulta, é a que tem prevalecido nas práticas de educação e formação de adultos.

O self construído

Ao contrário das perspetivas anteriormente apresentadas, as visões mais atuais do self entendem-no como um processo contínuo de construção e de adaptação às circunstâncias de vida.

A visão tradicional e simplista, que entende o desenvolvimento em termos de crescimento e de declínio e que considera o desenvolvimento do ser humano terminado no início da idade adulta, está a ser fortemente contestada pela Psicologia de Desenvolvimento ao Longo da Vida. Este domínio de investigação centra-se na descrição e na explicação das mudanças ao longo de toda a existência do ser humano, desde o nascimento até à morte, na análise dos processos de otimização que o indivíduo utiliza, bem como no estudo da constância e da mudança que se manifestam na conduta humana ao longo de toda a vida.

Segundo Baltes (1999), embora haja processos contínuos e descontínuos de ação, cujo início, duração e término se situam em momentos variáveis, nenhum período de vida possui uma importância prioritária. O autor considera que o desenvolvimento está dependente de um conjunto de variáveis contextuais, tais como factores ligados à idade, socioeconómicos e acontecimentos significativos de vida, bem como de outras influências potenciadoras ou inibidoras do desenvolvimento, como o sexo, a etnia ou o estatuto socioeconómico.

A multidimensionalidade e a multidireccionalidade são algumas das características que, em sua opinião, enformam o desenvolvimento humano. O desenvolvimento é multidimensional no sentido em que, ao longo da vida, e num processo dinâmico, há períodos em que se regista crescimento e períodos em que se regista declínio, em que existem ganhos e existem perdas; o desenvolvimento é multidireccional na medida em que é determinado pela ação conjunta e interativa de diferentes fatores. Considerar a multidimensionalidade e a multidireccionalidade do desenvolvimento significa que o crescimento e o declínio não se sucedem linearmente, o que coloca em causa a conceção do senso comum que relaciona inversamente o acréscimo de idade com a capacidade para adquirir novas competências e conhecimentos.

Neste quadro de análise do desenvolvimento humano surgem outros conceitos, tais como otimização seletiva, compensação e plasticidade, que se traduzem em processos adaptativos que o sujeito põe em marcha e lhe permitem ir-se ajustando ao mundo e à sua realidade. Quando vê declinar algumas das suas faculdades, o indivíduo seleciona os domínios de atividade nos quais quer continuar envolvido, fá-lo em função das prioridades que fixou para si próprio e utiliza, entre um conjunto de possibilidades disponíveis, aquela que lhe é mais acessível e que viabiliza o desempenho de qualquer função.

QUINTAS, Helena Luísa Martins. Educação de adultos: vida no currículo e currículo na vida. – (Perspetivas e reflexões; n1). Capítulo 4, páginas 59-60

ISBN 978-972-8743-43-7 CDU 374. Consultado a 05.01.2015