Embora
desenvolvam diferentes orientações, porque partem de perspetivas também
diferentes, todos eles apontam para a capacidade do sujeito adquirir, a partir
de determinada fase da sua vida, competências de autonomia, capacidade para se
libertar das influências sociais que contribuíram para a formação da sua
identidade, logo para se transcender, se superar, apoiado nesse self
entretanto formado. Este conjunto de pressupostos é claro
no constructo de auto-actualização de Maslow, que se refere à capacidade que o
sujeito possui para, com base naquilo que é, rever as dimensões e os aspetos
que configuram o seu self. A
tarefa do formador é a de ajudar as pessoas a desenvolver mais integralmente o
que são, a realizarem e a atualizarem mais plenamente as suas potencialidades.
No
caso de Erikson, o autor defende o conceito de integridade, que se traduz na
capacidade do indivíduo se ajustar aos desafios da sociedade. Neste sentido,
embora considere a vida pessoal como integrada num contexto histórico e
cultural alargado, Erikson concebe a existência, no indivíduo, de um núcleo de
partida que tem de se apropriar e adaptar às variáveis socioculturais do mundo
em que vive. considera que o adulto está permanentemente envolvido num processo
de crescimento psicológico, através do qual constrói o seu projeto de vida, se
auto-realiza e auto-determina na procura de um sentido para a sua existência. O
fator que o sujeito manipula em função dessa intencionalidade é o seu self.
Com
este objetivo, Rogers defende o profundo conhecimento pessoal como a estratégia
para que se persigam os objetivos de desenvolvimento pretendidos. Aponta, como
função primordial do formador, o desempenho de um papel semelhante ao de um
terapeuta que auxilia o formando a aprofundar esse conhecimento de si próprio,
com o objetivo de identificar os aspetos em que julga poder mudar, para que se
realize mais plenamente como pessoa.
Finalmente,
Loevinger define fases que conduzem uma trajetória em direção à autonomia,
mapeando o curso de vida com momentos que encerram indicadores de desempenho
que gradualmente possibilitam ao sujeito gerir de forma mais autónoma as suas
posições e decisões.
Esta
conceção de “self assumido”,
descrita nos exemplos dados mas que subsiste noutras conceptualizações do
desenvolvimento do indivíduo na vida adulta, é a que tem prevalecido nas
práticas de educação e formação de adultos.
O self construído
Ao contrário
das perspetivas anteriormente apresentadas, as visões mais atuais do self entendem-no
como um processo contínuo de construção e de adaptação às circunstâncias de vida.
A visão tradicional e
simplista, que entende o desenvolvimento em termos de crescimento e de declínio
e que considera o desenvolvimento do ser humano
terminado no início da idade adulta, está a ser fortemente contestada pela
Psicologia de Desenvolvimento ao Longo da Vida. Este domínio de investigação centra-se
na descrição e na explicação das mudanças ao longo de toda a existência do ser
humano, desde o nascimento até à morte, na análise dos processos de otimização
que o indivíduo utiliza, bem como no estudo da constância e da mudança que se manifestam
na conduta humana ao longo de toda a vida.
Segundo Baltes (1999), embora haja processos contínuos
e descontínuos de ação, cujo início, duração e término se situam em momentos
variáveis, nenhum período de vida possui uma importância prioritária. O autor
considera que o desenvolvimento está dependente de um conjunto de variáveis
contextuais, tais como factores ligados à idade, socioeconómicos e acontecimentos
significativos de vida, bem como de outras influências potenciadoras ou
inibidoras do desenvolvimento, como o sexo, a etnia ou o estatuto socioeconómico.
A multidimensionalidade e a multidireccionalidade são algumas
das características que, em sua opinião, enformam o desenvolvimento humano. O
desenvolvimento é multidimensional no sentido em que, ao longo da vida, e num processo
dinâmico, há períodos em que se regista crescimento e períodos em que se
regista declínio, em que existem ganhos e existem perdas; o desenvolvimento é
multidireccional na medida em que é determinado pela ação conjunta e interativa
de diferentes fatores. Considerar a multidimensionalidade e a
multidireccionalidade do desenvolvimento significa que o crescimento e o
declínio não se sucedem linearmente, o que coloca em causa a conceção do senso
comum que relaciona inversamente o acréscimo de idade com a capacidade para adquirir
novas competências e conhecimentos.
Neste quadro de análise do desenvolvimento humano
surgem outros conceitos, tais como otimização seletiva, compensação e
plasticidade, que se traduzem em processos adaptativos que o sujeito põe em
marcha e lhe permitem ir-se ajustando ao mundo e à sua realidade. Quando vê
declinar algumas das suas faculdades, o indivíduo seleciona os domínios de atividade
nos quais quer continuar envolvido, fá-lo em função das prioridades que fixou
para si próprio e utiliza, entre um conjunto de possibilidades disponíveis,
aquela que lhe é mais acessível e que viabiliza o desempenho de qualquer
função.
QUINTAS,
Helena Luísa Martins.
Educação de adultos: vida no currículo e currículo na vida. – (Perspetivas e reflexões; n1). Capítulo 4,
páginas 59-60
ISBN 978-972-8743-43-7 CDU 374. Consultado a 05.01.2015
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